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quinta-feira, 2 de junho de 2011

10° Fichamento Da Gincana (Uffa)

Revista de Odontologia da UNESP. 2007; 36(4): 299-304


Alerta à resistência antibiótica em periodontia

SEKIGUCHI.R.T; FUKUDA.C.T; DAMANTE.C.A; MICHELI.G; LOTUFO.R.F.M

“O uso abusivo e errôneo de agentes bacterianos tem le¬vado ao crescente número de microrganismos resistentes a esses medicamentos. A resistência microbiana tem se torna¬do um problema mundial de âmbito médico, econômico e de saúde pública, embora não atinja todos os países da mesma maneira1. Entende-se por resistência bacteriana a drogas, a capacidade herdada ou adquirida que permite que um micror¬ganismo sobreviva na presença de determinado antibiótico. Bactérias resistentes são aquelas que não sofrem influência da droga independentemente de sua concentração2.”
(Pg299)

“A descoberta da penicilina por Alexander Flemming em 1928 revolucionou a história da medicina. Porém, logo após, descobriu-se que alguns microrganismos eram resistentes a essa substância. O próprio Alexander Flemming, em en¬trevista à rádio BBC de Londres em 1945, já alertava que “o tratamento seria decepcionante se a penicilina não fosse utilizada em micróbios vulneráveis a ela e se a dose indicada e a duração do tratamento não fossem respeitadas”4.”
(Pg300)

“A resistência microbiana às drogas tornou-se um pro¬blema de âmbito mundial com distribuição irregular pelos países. Baquero et al.5 mostraram que as taxas de resistência de Streptococcus pneumoniae à penicilina eram de 25% na França, 45% na Espanha, 3 a 8% na Inglaterra e Alemanha. A prevalência de Staphylococcus aureus resistentes à me¬ticilina variou de 0,1% na Dinamarca a 30% na Espanha, França e Itália6.”
(Pg300)

Os antibióticos podem apresentar diversos mecanismos de ação na bactéria, como inibição da síntese da parede ce¬lular (penicilina e cefalosporina), interferência na membrana celular, inibição de síntese protéica (tetraciclina, macrolídeos e clindamicina) e interferência na síntese de ácido nucléico (nitroimidazóis, quinolonas)7.
(Pg300)

Entretanto, o fato da bactéria ser ou se tornar resistente a determinado antibiótico é notório. Isso ocorre basicamente devido a três mecanismos de aquisição de resistência an¬timicrobiana: intrínseca, mutante e por meio de aquisição horizontal de material genético de outra bactéria.
(Pg300)

O primeiro mecanismo implica no fato da resistência ser herdada, ou seja, é característica da espécie. Por exemplo, Eikenella corrodens é resistente à clindamicina bem como a maioria de Fusobacterium sp. é resistente à eritromicina8. O segundo mecanismo, a mutação, é raro. Entretanto, a modifi¬cação em um único nucleotídeo do DNA bacteriano é capaz de desencadear o processo de resistência. É o que ocorre com a rifampicina, que não deve ser usada isoladamente no tratamento da tuberculose devido ao desenvolvimento rápido de resistência pelos microrganismos, principalmente as micobactérias8.
A resistência adquirida devido à aquisição horizontal de material genético de outra bactéria é o terceiro e mais comum mecanismo. A aquisição de material genético pode se dar por transformação (via ambiente), transdução (via bacteriófago) ou conjugação (via plasmídeos - segmentos circulares de DNA)8.
Há outros mecanismos mais complexos existentes: a bomba de efluxo, a destruição enzimática, a alteração no alvo da bactéria que reduz a afinidade do receptor e a redução da incorporação ou captação de antibiótico para o interior da bactéria8. (Pg300)

O conhecimento dos mecanismos de resistência bac¬teriana é de extrema importância para a compreensão e a correta medicação.
(Pg300)

Os principais fatores que contribuem para a resistência antibiótica são: uso generalizado na agricultura e na medi¬cina veterinária, deficiência na cooperação do paciente, uso desnecessário e aspectos sócio-econômicos em países em desenvolvimento.
(Pg300)

O uso de antibióticos na agricultura e na medicina vete¬rinária consome 40% da produção de antibióticos nos EUA. A medicina veterinária consome 20% em tratamentos de animais doentes, enquanto o restante é destinado à promo¬ção do crescimento animal, à prevenção de doenças em um rebanho inteiro ou em pragas na agricultura. Por exemplo, quando uma ave de uma criação apresenta sintomas da infec¬ção por E. coli, o antibiótico é adicionado à água de todas. Enquanto a droga pode aniquilar a E. Coli, um outro tipo de bactéria, Campylobacter sp., pode se tornar resistente. Campylobacter sp. é a causa mais comum de diarréia nos Estados Unidos afetando mais de 2 milhões de pessoas por ano, entretanto, não tem efeito algum nas aves9
(Pg300)

“A cooperação do paciente é fator chave para a pro¬blemática da resistência, pois o período ou freqüência da ingestão do medicamento é dificilmente controlado pelo profissional. Alguns profissionais receitam sem prescrição e o paciente nesse caso não possui nem o acesso à informação correta. Esses erros na ingestão comprometem a meia-vida do medicamento, podendo resultar na resistência ao antibi¬ótico. Outro aspecto seria o fato do uso desnecessário, que a “Aliança para o Uso Prudente de Antibióticos” (APUA) destaca. Segundo a APUA, 30% dos antibióticos são pres¬critos desnecessariamente10.”
(Pg301)

“Antibióticos prescritos por dentistas são freqüentemente utilizados para tratamento de outras infecções não relacio¬nadas com a cavidade bucal. Por exemplo, o metronidazol, prescrito em alguns casos de periodontite agressiva, é usu¬almente indicado como coadjuvante no tratamento médico de giardíase, amebíase e vaginites. Tal fato pode resultar em futura seleção natural para a resistência antimicrobiana. Adicionalmente, muitos médicos, procurados por pacientes queixando-se de infecções dentais, podem prescrever antibi¬óticos desnecessariamente, quando a intervenção mecânica poderia sanar a queixa21.”
(Pg301)
“O uso de antibiótico deve ser feito de maneira racional e, portanto, é necessário ter certo conhecimento sobre o complexo ecossistema que compõe a cavidade bucal. A microbiota da bolsa periodontal pode abrigar cerca de 500 espécies bacterianas diferentes23, sendo que nem todas são importantes para a progressão da doença periodontal”.
(Pg301,302)

“Na Periodontia, como em outras especialidades da Odontologia, a obtenção de um antibiograma do paciente é recomendada a fim de que possamos medicá-lo correta¬mente. Entretanto, na ausência de tempo para adequado tratamento, a prescrição de antimicrobianos é realizada sem investigação criteriosa12. O profissional opta por proporcio¬nar alívio rápido ao seu paciente em vez de realizar a coleta de amostra bacteriana e aguardar para diagnosticar e tratar a infecção racionalmente. Na última década, os antibióticos comumente prescritos na Periodontia, como a penicilina e a tetraciclina, têm demonstrado nítido aumento na resistência antimicrobiana. A explicação mais plausível seria a cres¬cente eliminação das bactérias susceptíveis e surgimento de bactérias resistentes”.
(Pg302)

“O tratamento antimicrobiano em Periodontia baseia-se na premissa de que microrganismos específicos podem causar doença periodontal e que os agentes antimicrobianos presen¬tes na bolsa periodontal, excedendo a concentração mínima inibitória, poderiam eliminar os patógenos que ali estivessem. A possibilidade de erradicar ou suprimir os periodontopató¬genos da boca poderia reduzir o risco de uma recolonização subgengival e de uma futura atividade da doença20.
Portanto, devemos prescrever antibióticos específicos a cada tipo de microorganismo presente na bolsa. Devemos considerar as características do paciente e situações de perda de inserção contínua, apesar da remoção mecânica do biofilme25.
Os benefícios do uso de antibioticoterapia sistêmica para tratamento de doença periodontal crônica são controversos na literatura e ainda não se tem uma posição definida a esse respeito26,27.”
(Pg302)

“O fracasso geralmente se deve à escolha inadequada do antibiótico, surgimento de microrganismos resistentes, inabilidade de penetração no sítio de infecção e não coope¬ração do paciente28.
Quando se verifica a necessidade real de receitar um antibiótico, devemos ter em mente algumas dificuldades encontradas na doença periodontal. Por exemplo, algumas bactérias podem penetrar nos tecidos periodontais, as raízes dentárias podem apresentar irregularidades como concavida¬des anatômicas, além de sítios extradentários que dificultam o acesso à remoção mecânica do biofilme bacteriano26.”
(Pg302)

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